2. Pico: Retrato do Povoamento da Ilha

/ Museus

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A capitania do Pico foi entregue a Álvaro de Ornelas em data indefinida.
A capitania do Faial foi concedida a Jos de Utra em 1468, pelo que as datas devem ser próximas.
Os historiados são unanimes no desinteresse ou incapacidade de administração do 1.º capitão, confirmada pela posterior concessão do Pico, em 1482, ao capitão do Faial.
As ilhas ficaram desde aí associadas, cabendo ao Pico uma clara posição de subalternidade.

A entrega da capitania do Pico a Jos de Utra foi precedida de uma última tentativa de administração donatarial junto de Álvaro de Ornelas.
Na carta de concessão da Capitania do Pico, a Infanta D. Beatriz abre a possibilidade de os habitantes do Faial possuírem terras no Pico para a criação de gado, sem a necessidade de viverem na ilha.
Esta carta é responsável pela posse da maior parte das terras do Pico na área fronteira ao Faial pelas famílias faialenses.

Entre as causas do povoamento tardio contam-se a escassez de cursos de água permanente e de terras aráveis.
As perigosas condições de acostagem da orla marítima picoense impuseram uma forte dependência entre o Pico e o seguro porto da Horta, na ilha do Faial.
Esta realidade transferiu para a história do Faial uma parte significativa da história do próprio Pico, afetando diretamente o percurso económico da ilha.

Reforça-se que os solos muito pedregosos que predominam no Pico facilitam a infiltração da água no subsolo, prejudicando a alimentação de cursos de água permanente. 
Umas das caraterísticas da paisagem humanizada do Pico são as cisternas implantadas junto das habitações para recolher a água da chuva.

Os dados disponíveis apontam para uma cultura te trigo próspera na Piedade, por contraponto à generalidade da ilha, e em particular às Lajes, onde existem registos de muitas vinhas e grandes criações de gado.

A produção de vinho e a atividade pastorícia surgem, desde cedo, entre as mais importantes atividades económicas do Pico, favorecidas pelas caraterísticas dos solos e do clima.
Os picoenses souberam aproveitar estas caraterísticas, construindo, por exemplo, os currais da vinha que caraterizam a paisagem vitivinícola.

O solo pedregoso desincentivou a exploração das terras segundo uma lógica de produção de pão.
Estas caraterísticas, tendo em conta o contexto civilizacional da grande valorização da produção cerealífera, a par da falta de empenho da primeira administração, acabaram favorecendo um povoamento mais acelerado noutras ilhas do arquipélago.
Até porque as outras ilhas, desde dos primórdios da humanização, se assumem rapidamente como celeiros do reino, enquanto o Pico se regista uma permanente carência de cereais.

Estas desvantagens não impediram a fixação de alguns povoadores no Pico em data anterior a 1482, como evidenciam as referências ao 1.º homem a pisar a ilha: Fernão Álvares Evangelho, nas Lajes.

A combinação da costa, que conferia abrigo às embarcações, envolvida pela fajã lávica das Lajes, com a capacidade de suportar atividade agrícola confere condições vantajosas para essa mesma atividade e à fixação humana, algo que para a parcela de costa a nascente só nas Ribeiras se pode considerar minimamente comparável.

Apesar de o capitão Utra desconhecer este povoamento, tal não impediu que lhes reconhecesse primazia face ao grupo de povoadores que ele próprio enviara para a zona de São Mateus.
Sabe-se que as Lajes é elevada a Concelho em 1501, 3 anos após a horta, o que confirma o atraso do povoamento do Pico, porquanto em todas as restantes ilhas dos grupos oriental e central esse reconhecimento civilizacional já tinha ocorrido no final do século XV.

O povoamento do Pico terá sido essencialmente garantido por pessoas provenientes das ilhas Terceira e Faial. Encontram-se algumas referências às ilhas Graciosa, São Jorge e São Miguel.
Existem também referências de fixação nos Açores, nomeadamente no Pico, de indivíduos de origem judaica em época remota.
Em 1494, 12 anos após a junção das capitanias, a população das duas ilhas é avaliada em cerca de mil e quinhentos habitantes.
Este número aponta para a fixação no Pico de algumas centenas de indivíduos, admitindo a elevação da vila da Horta em 1498 e das Lajes em 1501.

(Artigo número 2 no âmbito da celebração dos 476 anos de elevação de São Roque do Pico a Vila. O texto tem como base a obra ‘Uma Sociedade do Antigo Regime – São Roque do Pico: o território e as famílias’ de Igor Espínola de França.)


2018-11-15 12:56:05

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